O ensino de arquitetura e urbanismo no Brasil passa por um momento conturbado. De um lado o acesso abundante à informação, tônica dessa geração em todas as áreas do conhecimento, aliado à consolidação do CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo, que entra no seu sétimo ano de vida com conquistas importantes para a profissão. De outro a profusão de novos cursos, alguns deles —pasmem — totalmente na modalidade EaD.
Não obstante a abrangência das atribuições profissionais garantidas pelas resoluções 21 e 51 (essa última, alvo de justos e injustos protestos), nosso currículo mínimo tem ridículas 3600 horas-aula, das quais 20% podem ter disciplinas EaD e outros 30% podem ser de disciplinas optativas. Temos na prática 1800 horas para ensinar arquitetura dentro do currículo mínimo, adotado por 99% dos cursos particulares.
O ensino à distância e a ênfase cada vez maior nas horas de estudo fora da escola são um caminho sem volta. Mas o que mais me preocupa é que estamos reduzindo as horas em classe em prol desse novo modelo educacional enquanto a lógica das disciplinas e a cabeça de professores e alunos ainda é “presencial”. Como professor, me angustia a dificuldade que o estudante de arquitetura tem de entender o que deve ser aprendido nas disciplinas de projeto. Normalmente o aluno insiste em se aperfeiçoar no uso de ferramentas computacionais sem dar a mesma importância ao processo de projeto. Dominar Lumion, Revit ou Archicad mas fazer um projeto ruim é como passar batom numa boca banguela.
Saber fazer um bom programa de necessidades, estudos formais consistentes, dominar a lógica estrutural, os princípios bioclimáticos, valem muito mais do que ser “bom de maquete eletrônica”. O BIM é uma realidade, mas estão usando artilharia pesada para matar formiga. Não podemos formar arquitetos medíocres e excelentes desenhistas. Um estudante não pode ter pânico de uma lapiseira 0,9 é uma folha em branco! É pedir demais?
O desafio para o ensino de projeto de arquitetura nos próximos anos é contemplar o design paramétrico numa matriz que reforce o processo projetual. Desde Vitruvius (80 a.C. / 15 a. C.) que a prática arquitetônica envolve a compreensão das premissas projetuais, a análise do sítio e dos aspectos legais e normativos, a elaboração de estudos conceituais e o aprofundamento técnico das soluções escolhidas. Caro aluno, o Revit por si não fará de você um grande arquiteto. No máximo, um ótimo desenhista. É o suficiente pra você?